RESSENSIBILIZANDO CIDADES
02 a 05 de Outubro, 2019 : Ambiências urbanas e sentidos: Rio de Janeiro
O congresso "Ressensibilizando cidades" foi um momento incrível de encontro e compartilhamento, onde durante as diferentes vivências dos quatro dias pudemos aprender, investigar e fazer novas redes de contato. Confira aqui na galeria de fotos os melhores momentos e os resumos do que aconteceu em cada um dos dias do evento.
Foto: Mariana Agum
Mesa de abertura, evidenciando a fala de Cristiane Duarte (Coordenadora do LASC e do Ressencidades). À sua direita está a prof. Ethel Pinheiro (coordenadora LASC e ressencidades), e à sua esquerda estão as profs Margarete Pereira e Mônica Salgado, respectivamente. Foto: Mariana Agum
Foto: João Pina
Foto: Mariana Agum
Dia 1 - 02.10.19 Abertura e palestra de Jean François Augoyard
Na tarde do primeiro dia de evento, tivemos o credenciamento e a abertura do congresso, com renomados professores da FAU UFRJ e representante do SEBRAE-RJ. Após este momento, às 17h pudemos aprender com as reflexões do Prof Jean François Augoyard que trouxe importantes conceitos sobre atravessamentos em torno do conceito de ambiências. Os debates também foram muito produtivos, pois pudemos ampliar a discussão sobre práticas e posturas projetuais na cidade.
Participantes da mesa de abertura: Andrea Queiroz Rego (Diretora FAU/UFRJ), Monica Salgado (Coordenadora PROARQ), Margareth Pereira, (Representante UIA 2020), Cristiane Duarte (Coordenadora LASC-PROARQ), Ethel Pinheiro (Coordenadora LASC-PROARQ), Mario Sergio Ferreira (Representante SEBRAE-RJ)
Foto: Leonardo Costa
Foto: Leonardo Costa
Foto: João Pina
Foto: Leonardo Costa
Dia 2 - 03.10.19 Apresentação de artigos
Na manhã e na tarde do segundo dia de evento, tivemos as apresentações de artigos dos quatro eixos, com discussões em cada turno que possibilitaram identificar conceitos e questões em comum para aplicar nas ações práticas dos workshops
Foto: Mariana Agum
Foto: Mariana Agum
Foto: Mariana Agum
Foto: Mariana Agum
Dia 3 - 04.10.19 Workshops - EIXO 1
Na manhã do dia 04 de outubro, com todo o grupo reunido (coordenadoras do eixo, autores dos trabalhos e demais inscritos), foram destacadas algumas sensações e percepções do grupo em relação à Praça Tiradentes, além das pré-existências locais, e então os principais conceitos foram agrupados. A partir dos três núcleos conceituais formados - Barreira, Percurso e Imagem-Imaginário - concluiu-se que a figura imagética do Muro seria a representação mais intensa e imediata dos assuntos discutidos, capaz não só de englobar, mas também engrandecer os demais pontos levantados por todos. Tanto quanto explorar a ideia de fronteiras imaginárias e a força dessa imagem na construção sensível do espaço, era objetivo dos componentes do eixo proporcionar aos usuários/passantes do local uma experiência de apropriação da/na praça, e despertar ali um Lugar de afetação entre o Eu e o Outro.
Mas como construir e desconstruir muros (reais e imaginários) nessa porção da cidade? A resposta estava no simples ato de empilhar coisas... caixas... caixas de arquivo morto. Assim se deu o encadeamento de ideias que culminou na proposta de intervenção. E por que arquivos mortos?
Porque estes seriam a grande síntese de tudo o que havia sido trazido desde a palestra inicial.
Arquivo morto é o local onde se guarda aquilo que não se consegue desapegar ou simplesmente não se pode, mas que não se quer acessar sempre. Assim, por medo do esquecimento, guarda-se, arquiva-se e esquece-se. Desse modo, as caixas de arquivos mortos seriam os elementos construtivos dos muros, e nas paredes ou faces das caixas, a possibilidade deixada aos passantes de se registrarem através de memórias e fatos que gostariam de depositar num arquivo morto.
Dia 3 - 04.10.19 Workshops - EIXO 2
Foto: João Pina
Foto: João Pina
Foto: João Pina
Foto: João Pina
No workshop, após se retomar a discussão sobre a monumentalidade na contemporaneidade, pensou-se como em se propondo a ressenssibilização da Praça Tiradentes os sentidos poderiam ser evocados e criados de modo mais aberto. A complexificação de significados, através da possibilidade de contar histórias outras, não mitificadoras, foi entendida como caminho para uma construção de memória acolhedora de diferentes narrativas com base na diversidade e na mistura. As reflexões a partir das comunicações colocaram o tema da incompletude, do sentido ruinoso de nossa relação com os tempos da paisagem: objetos-discurso, fragmentos, rastros de presenças marginais, algumas invisíveis.
Nesta direção, a ação proposta foi a delimitação do monumento existente, expondo-o e ressignificando-o: um triângulo vermelho passou a compartilhar o centro da praça com a estátua de D Pedro I de modo a afirmar e questionar o sentido de liberdade ontem e hoje. A presença de Tiradentes, o “inconfidente”, foi evocada a um só tempo de modo frágil e forte: efêmero, ao rés do chão e próximo dos passantes, uma inscrição simbólica que criou lugar para o registro das “confidências” e desejos dos agentes deste espaço hoje – reafirmando o sentido do lugar como público e democrático.
Também se propôs a interação com as pessoas na rua, questionando a presença/ausência de Tiradentes na Praça (paradoxalmente, alguns o identificaram como D.Pedro I). Se inconfidente é aquele com quem conta segredos, conta estórias outras, o grupo então propôs para si este mesmo
papel de revelar estórias não contadas, ou não amplamente conhecidas, “segredos” capazes de
expor dimensões outras do lugar; de outra parte, no contato da conversa, pediu-se que os
interlocutores compartilhassem uma confidência, algo de sua memória e experiência do lugar,
sobre como reconheciam o sentido de liberdade ali e, especialmente, quais seriam seus desejos de
liberdade. O que era dito por cada um foi, no transcurso da ação, sendo registrado como escritas
sobre a demarcação triangular no chão, onde também as imagens de outros personagens do
passado foram dispostas – a ação criou um campo compartilhado por muitos agentes da praça, o
que permitiu a todos os envolvidos a experiência de ressensibilização.
Dia 3 - 04.10.19 Workshops - EIXO 3
Foto: Desirrè Vacques
Foto: Desirrè Vacques
Foto: Desirre Vacques
Foto: Desirrè Vacques
Durante as discussões do workshop, compreendemos que o estado de atenção, a presença e o estar junto era pontos primordiais a serem trabalhados, bem como a noção de corpo coletivo em contraponto a estados exacerbados de individualidade. Resolvemos, assim, investigar corporalmente duas ideias propostas pelo grupo: a de andar muito lentamente, em bloco, como grupo coeso; e a de a de nos mover em “cardume”, trabalhando também a unidade de grupo, mas com variação de ritmos e movimentos; O primeiro modo de se mover foi inspirado na técnica da dança japonesa Butô/Butoh criada e liderada pelos artistas Tatsumi Hijikata e Kazuo Ono. Optar por esta movimentação como proposta inicial da intervenção teve como intuito perceber o que é estar em coletivo respeitando os ritmos deste coletivo e explorando também a contraposição ao incômodo da velocidade, identificado anteriormente como uma carga coletiva. Concluímos que era necessário passar pela experiência em conjunto: passar por uma desierarquização, um estar em conjunto submetido a um ritmo coletivo (o lento, o momento do butoh), para depois de entendermo-nos enquanto iguais nos sentirmos à vontade para propor movimentos e simultaneamente atentos e conectados para seguir os movimentos propostos por cada um do grupo (o cardume). O intuito não era que houvesse uma só pessoa ou poucas pessoas a conduzir o movimento, mas que cada
um pudesse propor alterações no ritmo e nos movimentos. Buscando uma alusão estética ao símbolo da justiça, decidimos cobrir com uma faixa vermelha partes do corpo como um ponto de atenção que gostaríamos de investigar individualmente, atando, literalmente, alguns sentidos em prol da ênfase de outros. Estas faixas também poderiam ser fixadas em qualquer outro corpo na praça, como marcos de passagem, toques ou atravessamentos durante a ação.
Dia 3 - 04.10.19 Workshops - EIXO 4
Foto: Leonardo Costa
Foto: Leonardo Costa
Foto: Leonardo Costa
Foto: Leonardo Costa
No workshop do eixo 4 discutiu-se como, a partir de uma ação física/intervenção se poderia promover a ocorrência de afetos e ações, colaborando assim para processos de ressensibilização que buscassem ter a rua como ponto principal. O caminhar para experimentar a rua, independentemente de sua forma, foi uma abordagem comum entre todos os artigos apresentados, tornando unânime na discussão que esse ato seria necessário. Neste sentido foi definido que seria mais cabível uma experiência de ressensibilização do que uma intervenção.
A ação combinada consistiu em explorar a rua através do caminhar, entretanto, a deriva foi direcionada pelo o olhar dos passantes que estavam ali naquele momento. Assim, o grupo interceptava um passante escolhido aleatoriamente, o qual se solicitava que, com a moldura feita pelo grupo, escolhesse qualquer enquadramento da paisagem da rua. Para evitar uma má compreensão do que estava sendo solicitado, os grupos explicavam, quando achavam necessário, que o enquadramento poderia ser qualquer ponto de interesse do passante e que para ele expressasse o que era vivenciar a rua. O que era escolhido pelo passante e emoldurado por ele era fotografado pelos participantes do evento e poderia ser um ponto positivo ou negativo. Em seguida era solicitado ao passante que com uma palavra descrevessem aquele enquadramento escolhido. Após esse momento, o grupo pedia, também, para que o passante escolhesse uma palavra para descrever o som que estava escutando naquele exato momento e um cheiro que
estivesse sentindo naquele local. Para ter uma melhor noção do público que estava engajando
à ação foi perguntado também se a pessoa passava naquele local diariamente, esporadicamente ou se era turista. A fotografia foi um método que os participantes julgaram de grande importância, pois seria uma forma de captar não só o enquadramento escolhido pelo passante, mas também de
capturar a pessoa por trás daquele olhar, daquele enquadramento.
Além de usar o questionário para captar as informações obtidas, os participantes também
usaram em seus telefones um aplicativo que gravava o percurso caminhado, assim cada grupo
pode assimilar e computar a deriva orientada pelos enquadramentos.
EIXO 1
AMBIÊNCIAS SENSÍVEIS E RESSIGNFICAÇÃO
De que forma podemos desnaturalizar as imagens da cidade propiciando uma maior relação com elas, criando formas de identificacao e afetividade entre o eu e o outro (seja este o sujeito ou o proprio espaco) Como ressignificar os espaços urbanos a partir da experiência sensível?
Pretendemos com este eixo, estimular a discussão teórica em torno da ressignificação a partir da experiência sensível dos espaços, além de trazer à tona também questões como alteridade, memória, identidade e afeto. Prevê-se a proposição de trabalhos que sejam reflexões sobre estes questionamentos ou propostas de ações e/ou intervenções de caráter efêmero e artístico, fundamentadas teórica e metodologicamente. As propostas práticas devem apresentar minimamente os meios físicos e materiais que pretendem utilizar para que se avalie a viabilidade como parte do evento e possíveis desdobramentos futuros.
Coordenação: Ilana Sancovschi e Nathalia Moreira
EIXO 2
SENTIDOS URBANOS E TEMPOS HISTÓRICOS
Como ressensibilizar estas ambiências, evocando os sentidos urbanos, o sentido de tempo destes lugares, sua passagem e sua persistência como parte de nossa memória e de nosso projeto de cidade?
Vivenciando estes lugares, dando-nos o tempo para a sensibilização e a sua redescoberta, podemos ser surpreendidos pela emergência de sentidos individuais e coletivos, afetos, ressonâncias da memória e móveis do desejo; podemos nos questionar sobre a presença do antigo e do novo e sobre como pensar a paisagem a partir de uma relação harmônica entre eles, reconhecer o como de seu encontro, seus detalhes; também podemos nos sensibilizar sobre ausências, lançar um olhar para os restos. Estas experiências podem ser instigadas por meio de práticas reflexivas, teóricas e críticas, ou de práticas de sensibilização que podem vir a ser práticas poéticas, a serem investigadas de modo sinestésico e (inter)subjetivo.
Assim, pretende-se neste eixo construir discussões teóricas e ações práticas sobre o tempo de nossa experiência e os sentidos do lugar. Prevê-se a proposição de trabalhos que sejam reflexões sobre estes questionamentos ou propostas de ações e/ou intervenções de caráter efêmero e artístico, fundamentadas teórica e metodologicamente. As propostas práticas devem apresentar minimamente os meios que pretendem utilizar, para que se avalie a viabilidade como parte do evento e possíveis desdobramentos futuros.
Coordenação: Fabiola Zonno e Leonardo Muniz
EIXO 3
EXPERIÊNCIA COTIDIANA E CORPOS URBANOS
De que formas é possível discutir sobre ressensibilização, a nível corpóreo, no cotidiano das cidades? Como reencontrar e (re)ativar a percepção e o exercício criativo a partir do próprio corpo em contato com o mundo e com as formas como o reinterpreta, acoplando ou deslocando objetos (corpos outros)?
Falar em “ressensibilização de cidades” é assumir que vivenciamos processos de “dessensibilização”, isto é, que podemos perder ou diminuir a capacidade de absorver e processar estímulos sensíveis nos ambientes. Desta forma, questionamos como sustentar atenção às experiências, como retomar o “exercício experimental da liberdade”, a bricolagem do olhar e do fazer - criar espaços e narrativas em movimento e tempo presente – experimentando e vivenciando o cotidiano do espaço urbano em seus variados estímulos e suas potencialidades. Neste eixo, incitamos a reflexão da temática através de experimentos urbanos estruturados em proposições discursivas/teóricas ou práticas, mediante oficinas, apresentações, performances ou intervenções que nos aproximem de corpos presentes, capazes de oferecer alternativas e brechas que provoquem reflexões sobre os limites da rotina, dos estados de atenção, da repetição, dos horários e dos deslocamentos, permitindo também uma experimentação da cidade em suas tangentes.
Coordenação: Julia Delmondes e Marília Chaves
EIXO 4
VIVÊNCIAS DA/NA RUA
Como (re)construir dinâmicas que possam ressensibilizar os espaços? Como propiciar engendramentos que motivem experiências mais humanizadoras e coletivas?
No desenrolar do cotidiano e da vivência do meio urbano sensível e reencarnado a rua se torna o campo experimental de processos, meios e reflexões do ressensibilizar. Os eventos e situações que ali acontecem envolvem ritmos, continuidades, rupturas e tantos outros processos que nos levam a reforçar, inibir e até mesmo fundar experiências nas mais diversas esferas. Quando se está imerso em uma ambiência podemos assumimos oscilar entre a postura da ação e a contemplação: como agir, o que contemplar, o que se compartilha (ou não) são afetações que se fazem presentes quando vivenciamos espaços como a rua. Como registrar e desencadear o ressentir são questões que podem ser refletidas e investigadas. Buscamos trabalhar neste eixo as questões citadas acima, por meio de reflexões teóricas, ações interventivas, experimentações que possam fomentar a realização de práticas viáveis de ressensibilização. Dentro de cada proposta deverá conter, além da fundamentação teórica e da metodologia de pesquisa, as diretrizes de ações/ intervenções idealizadas, para que possamos avaliar a viabilidade durante o evento. O intuito é que se possa traçar reflexões e criar uma ação conjunta de como podemos ressesensibilizar nossas cidades através do se vivencia na e da rua.
Coordenação: Bárbara Thomaz e Juliana Queiroz